May 2025

Saúde mental não é um tema novo, mas ainda parece um assunto silencioso em muitos ambientes operacionais. Falamos sobre segurança todos os dias. Falamos sobre eficiência, desempenho e risco. Mas quando se trata de como as pessoas estão realmente, mental e emocionalmente, muitas vezes o assunto desaparece.
E esse silêncio tem um custo.
No último ano, conversei com líderes offshore, oficiais de convés e gerentes de plataforma que já presenciaram isso: um membro da equipe que de repente se isola. O mau humor. O cansaço. O colega que “simplesmente não parece ele mesmo”. Essas não são coisas pequenas. São sinais iniciais de estresse, ansiedade, esgotamento ou algo mais profundo.
Quando esses sinais não são mencionados, não corremos apenas o risco de perder bons profissionais. Corremos o risco de tornar as operações menos seguras.
Saúde mental faz parte do desempenho, quer falemos sobre isso ou não
Em indústrias de alta pressão como petróleo e gás, navegação ou energias renováveis, a saúde mental está intimamente ligada à forma como as equipes operam.
A Pesquisa de Bem-Estar da Força de Trabalho do Mar do Norte 2025 revelou que:
Quase um em cada três trabalhadores offshore atingiu o limite clínico para depressão durante uma rotação padrão.
Mais de um terço relatou piora na qualidade do sono.
Estima-se que trabalhadores offshore tenham até 15 vezes mais chances de morrer por suicídio do que aqueles em terra.
Esses não são achados isolados. Refletem a experiência vivida por muitos que atuam em funções críticas de segurança, longe de casa, sob pressão constante.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, “Ambientes de trabalho que apoiam a saúde mental não são apenas mais humanos, são mais produtivos, com menor absenteísmo, maior engajamento e menos acidentes.”
A cultura não muda sozinha
Entendo a hesitação. Se você é supervisor ou líder técnico, falar sobre saúde mental pode parecer desconfortável ou fora da sua área. Mas aqui está a verdade: você não precisa ser psicólogo. Só precisa estar presente.
Uma checagem simples, uma pergunta ou até um sincero “Como você está de verdade?” pode ser o primeiro passo para construir confiança. E quando líderes mostram que é permitido falar, as equipes seguem o exemplo.
Um dos principais aprendizados que compartilho com líderes é este:
Quando líderes abrem espaço para falar sobre saúde mental, o restante da equipe também se sente mais seguro para se expressar.
Não se trata de baixar padrões. Trata-se de apoiar as pessoas que os cumprem, dia após dia.
Passos práticos para líderes
Se você não sabe por onde começar, aqui estão algumas dicas que compartilho em programas de liderança:
Inclua saúde mental na cultura diária de segurança. Adicione o tema às conversas de segurança. Mencione nas reuniões antes do turno.
Faça checagens regulares, não apenas quando algo parece errado. Prevenção é melhor que resgate.
Observe mudanças de comportamento. Se o foco, energia ou humor de alguém mudar, não ignore.
Fale a partir de um lugar de apoio. Você não precisa das palavras perfeitas. Apenas mostre que percebeu, que se importa e está disponível para conversar.
E se sua empresa oferece treinamento de Primeiros Socorros em Saúde Mental, faça. Não é terapia. É uma habilidade prática que ajuda a perceber sinais iniciais e agir cedo, antes que pequenos problemas se tornem grandes.
Para finalizar, começa com a gente Já avançamos como setor, mas ainda temos trabalho a fazer. Especialmente em ambientes onde ser “forte” é a regra não dita. A verdade é que força não é silêncio. É agir, mesmo quando é desconfortável.
Cada vez que um líder abre espaço para uma conversa sobre saúde mental, fica um pouco mais fácil para a próxima pessoa.
E é assim que as culturas mudam.
Fontes